Eu era feliz dentro das palavras que me calavam.
Deparava-me com a diferença entre o sonho, que é infinito,
e os pequenos movimentos das pessoas adormecidas.
Eu era feliz como um dia é feliz, como a noite.
Meus pensamentos eram imagens felizes, às vezes significavam algo.
Eu tinha a liberdade de não existir.
Quando era feliz e livre, carregava comigo todas as possibilidades
como quando há espíritos vivendo em uma casa e, por causa das paredes,
eles não estão necessariamente mortos.
Porque minha vida era uma história que alguém soprava ao meu ouvido,
de repente o futuro tornou-se tão concreto quanto o que acontece neste exato momento.
É preciso paciência diante do momento único.
Eu não falo; ele não muda.
Rosângela Darwich