anjo cego da expiação
ele estava esperando
em silêncio esperando
entregava-se ao que criava
um livro sem título
o dorso amargo de uma fruta
em que se via o mastro
eriçadas palavras talvez sem rumo
provocadas a entrar na nave
[no livro
não mais de ferro vestido
nem de eternos pergaminhos
mas construído no ar
para a viagem do mito & o mistério dos horizontes
folhas de bizarra flor negra
expostas a uma tempestade que se multiplica na memória
propagada até a última noite
a um limiar interdito
o fim a fenda o nada
última voz seguida ainda de uma outra
o verbo dissolve todos os elos
a estepe o verso a ravina
açoitados pelo vento
borboletas ziguezagueando no alto
tuas palavras aéreas
minúsculos demônios vermelhos
avançando crescendo
movendo-se
com a precisão dos planetas
& depois
quebrando-se
perdidos & abismados fragmentos
emissários alados da morte
Ney Ferraz Paiva,
do livro "nave do nada", 2004
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