ODE
Os dedos contam as ondas,
os minutos talvez,
jamais o anelo
Podes marcar a face disfarçada
a barba,
os bens,
todos os sonhos,
mas escravos do real só te aceitamos
na tua farda de pêlos,
sangue,
e ossos.
Quando recrearás a trança libertária
o horizonte do mito,
o Deus negado,
a tela do perene e do intocável?
Quando libertarás a página e o relógio,
o ser distante que revel condenas
ás arestas da ruga e aos frutos sazonados?
Quando,
(desde olhar em diagonal ao espelho e à morte)
farás ruir ao peso de teu gládio
e ao sulco de teu grito
as taças do não ser,
o veneno da aurora,
as portas do visível
e do invisível?
O jamais seremos sós perante a Fonte,
jamais seremos nós e a ti mostramos
o sorriso de "clown" que se reparte
em contorções de esperma,
tédio,
e ódio.
Jamais conservaremos o perfume e a liturgia
e a hora que se esvai não justifica
este desabrochar em cálice e corola.
Não ser,
(embora seja no retrato)
não ter,
(para ao flagelo condenar-se)
não sentir o chamar do céu porque beleza
e memória de ausências povoada.
Estamos sós,
bem sei,
e como e noite
arrancas o teu mundo no arbitrário
e a poesia morde o que não é.
Quem te susteve o braço suicida:
a ode ou o catecismo?
Quem te ligou á sorte deste povo:
o sonho ou a promissória?
Quem te fez espalmar a mão como inocente
e a cabeça baixar como culpado?
Ó tempo
ó dimensão do exílio e da orfandade
e se não digo eterno,
quase eterno,
deixai toda esperança
"voi che entratte"
Ruy Paranatinga Barata