HISTÓRIA E PERSONAGEM
Outra noite e uma esfera azulada cintila à minha frente.
Impossível é ver daqui onde me encontro o contorno dos
bálticos países, nem mares, nem as pequenas ilhas Falkland.
Meus óculos descansam num livro aberto ao meu lado. Talvez
eles tornassem mais nítido algum promontório e eu pudesse
distinguir a faixa de terra apontando para um farol incrustado
em pedras semipreciosas.
Obrigo-me daqui deste lugar onde recosto corpo e memória a
ver com nitidez um oceano que não preciso nomear a fustigar
de espuma as minhas costas, a dividir-me, a separar-nos,
espaço que eu inauguro nesta noite para que meu escaler com
marujos arrojados possa fazer a travessia e me levar.
Nesse espaço a memória inscreve, pela ausência, história e
personagem, a passagem nossa, nossa ida e nossa vinda,
trajeto e rota que vai do lugar de sombra deste quarto à esfera
azulada e mítica de onde deito olhar de dor para narrar-te.
Maria Lúcia Medeiros,
do livro “Quarto de Hora,
MPB
Há 7 anos
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