OS 5 FELIZES
Abrir janela, fechar janela, dar de cara com o mesmo lugar sempre, cadeia rochosa. Correndo riscos nos ruídos e silêncios, quintais varridos, separados da rua, esses oásis tranquilizam. olhares embaçados do ranzinza código das cidades grandes.
Nossas vidas anseiam por renascer noutra humanidade, entre casas organizadas, panelas limpas, algumas gramíneas e flores limpas de fumaça e pó vermelho, e outros seres que ainda valorizam a poética da vida.
Há música nas horas expressivas, poema algum deixado ao vento serviria para deixar o mundo vil com doces promessas de prazer.
Nesses campos ocupados de fumaça o homem vive, ainda faz seu pão, cultiva seu perfil e filtra o perfume rarefeito do aroma que escolheu. Com os sentidos todos abertos, não há mais nada a perceber do que objetivamente se instala.
O personagem deste texto trabalha num projeto de vida feliz que considera original, por crer que ainda existam espaços livres nos quarteirões de todas as cidades em que a humanidade habita e tenta compor com maestria, habitações dignas em que se apresentem com naturalidade: casas brancas, limpas, compotas em suas janelas de correr, uma casinha de cachorro, uma tabuleta indicando o guardador de correspondências, modelo de razão (inanimado e americano do que se vê parcialmente nos filmes da Broadway), o verde das ramagens, íngremes passagens para as formigas crescerem, sombras que se expandam ao número certo de umidade e a humanidade em peso poderá ser mais leve ao observar seus detalhes e sem pressa vir a servir-se dessa ínfima aparência, e tentar guardar como protótipo de feliz cidade ou apartamentos, reunidos e compartilhados por uma comunidade em que sua renda possa ser inferior, mas que a traduza em força para lhe ser destinado um conforto coerente.
As ruas ainda são desconfortáveis e embaralhadas, cobertas de mais de milhões de odores diferenciados, causando confusão e improvisação, dentro da improvável, mas real sobrevivência humana.
Ser feliz virou uma ideia infectada, um pouco se compra das expectativas da propaganda de mídia televisiva, o outro pouco se multiplica nas ruas através de desordens e ordens, a fantasia dos cartazes, a fome do outdoor, o pregão feito nas portas dos cinemas velhos, o outro pouco se marginaliza, entre a própria miséria do sentir, não tendo nada, não pretendendo comprar nada, e as abstenções, e o outro pouco a simplicidade, o que busca o personagem principal. ( continua )
Josette Lassance,
do livro de contos “Os Cinco Felizes”,
MPB
Há 7 anos
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