¨
repara o fogo oculto no corpo da palavra.
por vezes somente a surda fagulha das línguas mortas,
a primitiva clava do verbo fendendo o gutural e pálido signo.
deixa que esse fogo seja, de fato, o ígneo feto de tua fala,
singular e claro objeto que, aos solavancos, resvala
no féretro lento que te serve de discurso.
deixa que o sopro deste movimento dê curso
ao incêndio, e cinge tua língua na fuligem
da retórica & da lógica carbonizadas!
deixa assim que, ao perigo do que está prestes a ser dito,
junte-se o desejo contrito de não dizer nada.
deixa, enfim, ao teu aflito interlocutor
o labor e o risco de compreender
ou teu silêncio, ou tuas palavras.
Renato Torres,
Revista Polichinello, nº 5
MPB
Há 7 anos
Nenhum comentário:
Postar um comentário