O SALTO
A moça disse: vou pular daquela pedra ali. A pedra era uma falésia de cinqüenta, sessenta metros, ou mais até, que produzia sombra na enseada onde nadávamos. Realmente, logo apareceu no topo do paredão. Se estivesse pálida ou crispada não saberíamos reco-nhecer, mera silhueta, vago arbusto talvez. Ela gritou: ei, pessoal. Saltou em seguida, o corpo reto de peixe, voavam os cabelos na extremidade do peixe ou da flexa, que a velocidade era de flexa, instante de beleza. A cabeça mergulhou nas águas pilotando o corpo retesado, espada súbita. Pouco depois, à superfície tornava e deixou imóvel ficar-se flutuando, as pernas abertas, os braços abertos, a cabeleira soltando-se e espalhando-se feito algas, como os afogados boiando, que só se mexem quando a tração das águas, ou o vento, os impulsiona. A moça, sempre a conhecemos assim, íntima do mar, no qual brincava como os peixes brincam, ou os pássaros no ar, ou as crianças em qualquer pedaço de chão. Devagar a princípio, a seu redor, todos notamos que a água começou a manchar-se de vermelho.
Haroldo Maranhão,
do livro “Voo da Galinha”
MPB
Há 7 anos
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